J. T. Parreira
Poema para um futuro Outono
Quero que saibas que ainda
não tens saudades minhas
Espera o tempo
em que a luz do outono
vai entrar
por uma janela cinzenta
E um cristal emergirá do silêncio
das tuas lágrimas
Espera
que as praças fiquem
com a luz amarela das folhas
Nem mesmo no dia em que rostos
parcialmente escondidos
por detrás de lentes tristes
sigam o corpo
ainda não terás saudades minhas
A saudade é uma névoa que inicia
levantar-se sobre as coisas
que sempre dividimos
Uma pequena dor
transmitida no rosto de um filho
uma frase
incerta na boca de um neto
como um passo que desliza
para a queda
um livro que se abra e deixe
cair uma palavra
qualquer coisa que vá bater
no fundo dos teus olhos.
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Yara Daher, porque ela partiu
DeslumbramentoConhecer o mistério das palavras, pausa e espaço resgatar, no reflexo baço da sintaxe vislumbrar o jogo ardiloso da canção. Labirinto aparente de combinações, arabesco de buscas e confirmações, gozo caprichoso e contundente de quem se mira no espelho por detrás. Fosso fosco da linguagem, jogo de sombras e transparências: cristal. Onde você estiver, amiga, minha saudade e meu beijo. Sempre.
Um vôo à letra Y:
Amantes deixam impressões digitais um no outroAmantes deixam impressões digitais um no outro, cheias de evidências físicas, palavras sem fim, testemunhos, um par de calças vincadas, um jornal com a data exata, e dois relógios, o dele e o dela. Toda manhã eles traçam o contorno um do outro como a polícia marca com giz a posição do corpo na estrada. Amantes rendem um o outro, amantes reservam o direito de manter silêncio. Se e quando se separam, compõem um esboço policial de suas carase um contorno pra que possam dizer:E esse! E essa! Yehuda Amichai