alfabeto

30.12.04

Elizabeth Barret Browning


Sonnets from the portuguese


XLIII

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candlelight.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints,— I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life!— and, if God choose,
I shall but love thee better after death.

Amo-te quanto em largo, em alto e profundo
Minha alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.
Amo-te em cada dia, hora e segundo
À luz do sol, na noite sossegada,
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.
Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.
Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quiser,
Ainda mais te amarei depois da morte.


tradução: Manuel Bandeira

Com esse poema, um dos mais belos já escritos, e que amo, meu votos de um feliz ano-novo a todos que por aqui aparecem.


eu


: pouco mais que um grito rouco: nada?



24.12.04

Porque é Natal, de novo David Mourão-Ferreira


Ladainha dos póstumos natais


Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito


19.12.04

Denise Cruz


Longe


Olhos, esgarcei-os
o mais que nem pude:
queria ver o céu
sentir sua magnitude
de horizonte a horizonte;
queria por ele ser vista
até o quase-nada da minha totalidade.

De tudo
um gozo intátil
uma solidão de pele a pele.


Dor


O tempo parco e precioso do amor esgarçado em palavras cruéis à flor da pele.

13.12.04

Daniel Faria


As manhãs


Das manhãs
Apenas levarei a tua voz
Despovoada
Sem promessas
Sem barcos
E sem casas
Não levarei o orvalho das ameias
Não levarei o pulso das ramadas
Da tua voz
Levarei os sítios das mimosas
Apenas os sítios das mimosas
As pedras
As nuvens
O teu canto
Levarei manhãs
E madrugadas


diáfano


esse sentir de ti que em mim lilás se inscreve (e se esgarça) pouco antes do amanhecer.


5.12.04

Diva Cunha


para as tardes frias

abuse
de vestidos cinzentos
como o vento
quando tormentas
levanta nos cabelos

ponha meias finas, perfumadas
subindo as veredas ensombradas das pernas

nos pulsos ponha, ponha
correntes pesadas
chocoalhantes
como sinos de catedrais

e na boca rasgue um rubro
fulgurante porto
por onde as velas brancas de doer
possam morder, morder, morder


Domingo


Dia de silêncios travestidos de alvoroço.