Jussara Midlej
(Deter)minação
Faço minha vida — parcerias —
acaso e sorte, causa, (e)feitos, jeitos...
Se não me apraz
me ergo e
— livre arbítrio, tudo mudo
(re)descubro rotas, movimentos de fuga,
refúgios, quebrantos...
Se não me apraz
me ergo e
— livre arbítrio, tudo (re)ajusto
vem miscelânea-surpresa
— e convida de novo a
possíveis (im)possibilidades:
encaminhar (des)caminhos
(re)desenhar rotas minhas
me ergo e
— livre arbítrio, tudo mudo, fala
de (re)ajustes, (a)jeitos
de complexos (tre)jeitos.
(Des)associada, a vida é clara: rala.
Jarbas Martins
Soneto
onde se trata da matéria do canto e
de concerto (enguiçado) no ar
É de surpresa real, e não de invento,
que meu canto se nutre. É de nonada:
gaivota em pleno vôo e mar e vento —
viva escritura, sob o azul, lavrada.
Ante o que é breve e passa, pouco intento:
expurgo a vã palavra. (Nada, nada
me desconcerta mais do que o evento
de vê-la, nesta folha, restaurada).
Se me ocorre o poema, apenas tomo
o tempo em que ele paira, irresoluto,
entre a consumação e o desacerto.
Mas se me esvai, deixo-o de lado como
um canto que se perde, sem reduto,
enguiçado, no ar, o seu concerto.
Julieta Lima
De noitequando todos dormemsaímos voando— asa ante asa —até à estrela combinadaOs inocentes dormemenquanto nóspor entre sóis e escarpasardemos enlaçadosE ao amanhecer— asa ante asa—serenos saciadosVoltamose nos respectivos leitosaquecemos os pés no calorembirrantedos mortais que enganamos.