Glauco Matoso
SintéticoDe como a poesia é definidadepende a trajetória do poeta.Qual é, pergunto, a fórmula secretaque traça em poucas linhas uma vida?Segundo Rilke, a lira não duvida,mas Eliot é turrão, e tudo objeta.Bashô quanto mais crê menos se aquieta.Pessoa diz que é fé na dor fingida.Divergem tantos mestres só no tom.Não há porque dar tratos ao bestunto:há química no verso, não um dom.Qualquer opinião, qualquer assuntoserá, verdade ou não, poema bomse for densa a fração, breve o conjunto.
Ana Luísa Amaral
SilogismosA minha filha perguntou-meo que era para a vida inteirae eu disse-lhe que era para sempre.Naturalmente, menti,mas também os conceitos de infinitosão diferentes: é que ela perguntou depoiso que era para sempree eu não podia falar-lhe em universosparalelos, em conjunções e disjunçõesde espaço e tempo,nem sequer em morte.A vida inteira é até morrer,mas eu sabia ser inevitável a questãoseguinte: o que é morrer?Por isso respondi que para sempreera assim largo, abri muito os braços,distraí-a com o jogo que ficara a meio.(No fim do jogo todo,disse-me que amanhãqueria estar comigo para a vida inteira)