Miguel Torga, porque é Natal
Dia Santo
Dia de sol e de Natal;Andam guerras no mundo e dói-me a vista;Mas, com Deus no Marão sem neve, não há malQue resista.De mais, fora do tempo, este latimQue o padre Bento sabe, bastaPara me transceder a mimE a quantas más notícias o correio arrasta.S. Martinho de Anta, Natal de 1940.
Henrique Rodrigues Pinto
Poemas Simulados a Partir do Mesmo Mote Tosco (VI) Mote: Prefeitura paga R$ 3,00 por quilo de caramujos, que estão infestando a cidade. À maneira de Álvaro de Campos O DorsoNada resta!, já dizia antes que ele se me apresentasse Como um acúmulo de horizontes preplexos. Hoje, ah, hoje é tão vago quanto a própria idéia de consciência. Não me peçam planos. Que eu os trace apenas como pontos de fuga, no entanto, E eis que teremos à frente uma vastidão estéril. No dorso, trago um universo mínimo, tal como Um caramujo que não sabe de si E por isso mesmo procura sem pressa o próprio abrigo. Não há nada a sentir, apenas um cansaço imenso Repelindo-me com suas preces insidiosas. Sentir? Não basta. É inútil sentir. Daí as alternâncias da noite com o dia, não há nada além. Regateio diante dos caminhos, meu fardo É por demais denso para que me permita outras escolhas. Tenho um invólucro sobre mim, não asas. Perdoem-me a lentidão Assim como eu aceito de bom grado o sepultamento Inexpugnável das horas. Não lastimo, sequer sinto o que não chega a existir. Carrego uma casa vazia, sem alma nenhuma dentro.
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Holografia
Entre a retina e a tarde, brilha trêmula a tua imagem dentro e sobre o pôr-do-sol.