24.8.05

Porque hoje é o aniversário dele:


Legado


Deixo aqui meu relógio, lavoura.
Deixo aqui meu cabide, minha náusea,
minha empresa de espantos, meus ais,
interjeições e trejeitos. Mea culpa.
Deixo meu detector de mágoas,
meu rio predileto de margens abstratas,
minha idéia de esconderijo
— que restou do furto
de pomares e palavras.
Deixo meu avô tangendo a noite
para as tocas da insônia, tangendo
rezas para o pasto de Deus.
Deixo a casca do impossível,
perfis, carcaças, asco.
Deixo tudo e algo mais
dos noves fora.
Aonde for, fique um nome ou ervas
que não me separo de mim,
que me acompanho sempre.
(Quem se afasta
é o que pensaram de mim, o outro
o porquê, o quando.
Não sou eu.)
Cumpro a sina sem asas.


André Ricardo Aguiar

leia mais André aqui.


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