Florbela e Eu
1-
Eu sigo te e tu foges. É este o meu destino:
Beber o fel amargo em luminosa taça,
Chorar amargamente um beijo teu, divino,
E rir olhando o vulto altivo da desgraça!
Tu foges-me, e eu sigo o teu olhar bendito;
Por mais que fujas sempre, um sonho há-de alcançar-te
Se um sonho pode andar por todo o infinito,
De que serve fugir se um sonho há-de encontrar-te?
Demais, nem eu talvez, perceba se o amor
É este perseguir de raiva, de furor,
Com que eu te sigo assim como os rafeiros leais.
Ou se é então a fuga eterna, misteriosa,
com que me foges sempre, ó noite tenebrosa!
..............................................................
Por me fugires, sim, talvez me queiras mais!
Florbela Espanca
2-
Eu fujo-te. Tu ficas. O que é o destino?
Se em vez de fel amargo contiver a taça
o mel dourado e doce do lagar divino
bebê-lo à despedida dir-se-á desgraça?
Tu fitas-me, e eu fujo, alheia ao teu bendito
olhar: de que me serve? Não ouso alcançar-te
o sonho de ficar, ficar... Faz-te infinito
amor,e mesmo longe prometo encontrar-te!
Talvez seja mais que tempestade, o amor,
efêmero bafejo de mar em furor
que impune sacrifica pesqueiros leais
ou seja a calmaria vã, misteriosa
que em nós desdobra negra noite tenebrosa
.............................................................
: se acaso aqui ficasse, te amaria mais?
Márcia Maia
Comentários:2
Inegavelmente superior, este MM!!!
Parabéns!
A qualidade da tua poesia merece todos os elogios, deve ser por isso que geralmente me dispenso de deixar um elogio (fica a des_culpa)!... Sou um apaixonado da Florbela, Parabéns!!
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