21.4.05

Emanoel Marinho


Meu Amor


A América está triste
A Ásia, o Oriente.
Você também está.
Me encanta tanto um canto
Uma alegria...


Jorge Luís Borges disse:
Felizes os felizes.
Jesus também disse,
Mas foi mal traduzido.

O jornal quer tragédia
O telejornal quer sangue
Ou quem assiste o quer?

Com quantos pregos greves e desempregos
Se vende um apartamento?
Um liquidificador?
Um automóvel?

Se por ver muito
Quantos óculos se compra?

Falta de expectativas...
Tuas tristezas não me comovem.
Muito antes, incomodam
Queria por exemplo te ver sorrindo
Quando digo que te amo
Quando te chamo de meu amor
De meu bem

Mas tudo isso te incomoda.
O mundo não te ensinou
Pras coisas bonitas
Queres vidros, facas, cortes,
Revólveres e cicatrizes.

Borges disse:
Felizes os felizes
E é nisso que acredito

Em cada centímetro da minha alma ou pele
Eu quero uma palavra amiga,
Um beijo, um toque.

Estou mais para a canção e para o rock
Do que para o êxtase e o tecno-pop
Me poupe e me abrace
Por que complicarmos tudo?
Enquanto tu queres hamburger
Eu quero salada de alface

Viver não é fácil
Amar não é fácil
Mas, hoje, hoje eu vou te chamar de meu amor
Vou te chamar de meu amor na frente de todos
E isso vai te incomodar.

Irás olhar para os lados
Acender um cigarro
Tomar mais um trago
E eu vou continuar te chamando de meu amor
Meu amor, meu amor, meu amor.

E assim vou ficar a noite inteira
Neste microfone
Só não vou dizer teu nome
Por Amor.
Vou incomodar a todos
Que aqui estão presentes
Te chamando de meu amor
Meu amor, meu amor, meu amor.

Aliás, já estão todos perturbados
Por que o amor
Incomoda e perturba

Muitos dos que aqui estão,
Neste final de século e de milênio
Querem estar sós, sozinhos
E não podendo
Batem no peito da angústia
Por minha culpa, minha culpa

Ah, meu amor,
A América está triste
A Europa, O Ocidente
Você também está

Meu amor, meu amor, meu amor
O dono do bar vai querer desligar tudo
Chamar a polícia, a minha mãe, a imprensa
Pensa que eu bebi demais
Que estou tirando a paz dos freqüentadores
Destilando as minhas dores,
Num falso poema

Se por aqui estiver algum crítico literário
Com certeza dirá que o amor é piegas,
Que a paixão não lê
Que a paixão é cega.

E eu não estou nem aí pra nada
Vou ficar até de madrugada
Te chamando de meu amor
Meu amor, meu amor, meu amor.

Ah, meu amor...
O amor é um verbo subversivo
Primavera verão
Ontem, antes de ontem
Mataram o índio Galdino
Queimado vivo, Um Pataxó.

Meu amor, eu me senti tão só
Mataram os Tupamaros, no Peru
Eu senti nojo,
Eu me senti tão nu.

Ah, meu amor,
A Ásia está triste
O Oriente
A América
Você também

Meu amor, meu amor,
Meu bem.


Comentários:3

Blogger mariza lourenço said...

amei, flor.
beijo

4:12 PM  
Anonymous Anônimo said...

tanta beleza.
quanta verdade.
meu beijo.

7:29 AM  
Anonymous Anônimo said...

Muito Interessante o seu Blogrer. Parabens.
Maicon

12:54 PM  

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