7.8.04

Bento Teixeira


Descrição do Recife de Pernambuco

Para a parte do Sul onde a pequena
Ursa se vê de guardas rodeada,
Onde o Céu luminoso, mais serena,
Tem sua influição, e temperada,
Junto da nova Lusitânia ordena,
A natureza, mãe bem atentada,
Um porto tão quieto, e tão seguro,
Que para as curvas Naus serve de muro.

É este porto tal, por estar posta,
Uma cinta de pedra, inculta, e viva,
Ao longo da soberba, e larga costa,
Onde quebra Neptuno a fúria esquiva,
Entre a praia, e pedra descomposta,
O estranhado elemento se deriva,
Com tanta mansidão, que uma fateixa,
Basta ter à fatal Argos aneixa.

Em o meio desta obra alpestre, e dura,
Sua boca rompeu o Mar inchado,
Que na língua dos bárbaros escura,
Paranambuco, de todos é chamado
De Paraná que é Mar, Puca - rotura,
Feita em fúria desse Mar salgado,
Que sem no derivar cometer míngua,
Cova do Mar se chama em nossa língua.

in, Prosopopea, 1601.


Comentários:3

Anonymous Anônimo said...

Gostei de ver, Márcia. E lembro a Evocação do Recife...Um dia hei-de ir conhecer...

Amélia Pais

1:22 PM  
Anonymous Anônimo said...

Coisa maravilhosa.
Manoel Carlos

11:29 PM  
Anonymous Anônimo said...

Obrigada, querida...
Só você para me dar esse presente.
Nora Borges

8:42 AM  

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