26.4.09

Wislawa Szymborska


PI


O admirável número pi:
três vírgula
um quatro um
.
Todos os dígitos seguintes são apenas o começo,
cinco
nove dois
porque ele nunca termina.
Não se pode capturá-lo
seis cinco
três cinco
com um olhar,
oito nove com o cálculo,
sete
nove
ou com a imaginação,
nem mesmo três dois três oito
comparando-o de brincadeira
quatro seis com qualquer outra
coisa
dois seis quatro três deste mundo.
A cobra mais comprida do
planeta se estende por alguns metros e acaba.
Também são assim, embora mais
longas, as serpentes das fábulas.
O cortejo de algarismos do número
pi
alcança o final da página e não se detém.
Avança, percorre a mesa, o
ar, marcha
sobre o muro, uma folha, um ninho de pássaro, nuvens, e chega ao
céu,
até perder-se na insondável imensidão.
A cauda do cometa é minúscula
como a de um rato!
Como é frágil um raio de estrela, que se curva em qualquer
espaço!
E aqui dois três quinze trezentos dezenove
meu número de
telefone o número de tua camisa
o ano
mil novecentos e setenta e três
sexto
andar
o número de habitantes sessenta e cinco centavos
a medida da cintura dois dedos uma charada um código,
no qual voa e canta
descuidado um sabiá!
Por favor, mantenham-se calmos, senhoras e
senhores,
céus e terra passarão
mas não o número pi, nunca, jamais.
Ele
continua com seu extraordinário cinco,
seu refinado
oito,
seu nunca derradeiro sete,
empurrando, arf, sempre
empurrando a preguiçosa
eternidade.


Tradução: Carlos Machado

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