14.10.04

Czeslaw Milosz


Não mais


Preciso contar um dia como mudei
Minha opinião sobre a poesia e porque
Me considero hoje um dos muitos
Mercadores e artesãos do Império do Japão
Compondo versos sobre a floração da cerejeira,
Sobre crisântemos e a lua cheia.

Se eu pudesse descrever as cortesãs
De Veneza, como incitam com uma vareta o pavão no pátio
E desfolhar do tecido sedoso, da cinta nacarina
Os seios pesados, a marca
Avermelhada no ventre onde o vestido se abotoa.
Ao menos assim como as viu o dono da galeotas
Arribadas àquela manhã carregando ouro;
E se ao mesmo tempo pudesse encerrar seus pobres ossos
No cemitério, onde o mar oleoso lambre o portão,
Em palavras mais duráveis que o derradeiro pente
Que entre carcomas sob a lápide, só, espera pela luz
Não duvidaria. Da resistência da matéria
O que se retém? Nada, quando muito o belo.
Então devem nos bastar as flores da cerejeira
E os crisântemos e a lua cheia.

tradução: Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza.


Comentários:1

Anonymous Anônimo said...

gostari muito de ter acesso à tradução do poema O MAR, de Milosz.
Tem como me ajudar?

10:07 AM  

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